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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Naufrágio Austin Smith - Bahamas



Tanto o local quanto a época do ano eram propícios a furacões mas, a semana já estava no penúltimo dia de mergulho e felizmente encontramos condições excelentes até a noite passada, amanhã é dia de naufrágio e seria fundamental se o tempo permanece com toda essa calmaria. O Austin Smith repousa aos 18 metros de profundidade em uma região distante de qualquer formação de recifes, que possam impedir as forças da natureza sacudirem a superfície. Hoje o céu aqui nas Bahamas amanheceu timidamente encoberto e a velocidade do vento que sopra contra nossa embarcação já havia aumentado consideravelmente, e junto com as forças dos ventos, as águas também se cansam daquela tranquilidade e fazem sua parte neste novo cenário, junto com os ventos que insistem em nos fazer lembrar que este lugar é destinado aos furacões.



Não é apenas a superfície que fica agitada pelas águas, as correntezas e a tranquilidades de nós mergulhadores que descemos com enormes equipamentos fotográficos subaquáticos também ficam agitados conforme a superfície. Algumas ondas já invadem o deck inferior e o tempo agarrado ao cabo guia na espera dos demais mergulhadores já não tão confortável. Mas a visibilidade ainda continua muito boa e já aos poucos metros de profundidade é possível apreciar a lancha de 27 metros que descansa naquele fundo desde 1995. A região de ilhas das Bahamas conhecida como Exuma fica bem sul da capita Nassau. Um lugar com uma variante de temperatura da água entre 24°C e 31°C entre o inverno e o verão respectivamente e, uma visibilidade que pode ir dos 10 ao 30 metros, dependendo muito de como estão as condições climáticas da região.




E se pensar na vida marinha encontrada naquele arrecife artificial por natureza é de uma variedade tão impressionante quando a mudança climática que acabávamos de vivenciar. Mas, uma vida em específica me despertou ainda mais o interesse em poder chegar o quanto antes aquele ponto pouco profundo. Um tubarão da espécie Caribenho de arrecife que habita naquela região não tem a nadadeira dorsal, pelo menos pelas explicações dada pelo guia local, não se sabe ao certo se foi mais uma vítima de caçados de barbatanas de tubarão para sustentar o comercio asiático ou se esse animal foi mutilado em alguma briga ou até mesmo no acasalamento entre a própria espécie. Certamente seria uma sensação única poder encarar de perto um sobrevivente, poder imaginar o que passou, ter a certeza que sua vida esteve por alguns instante em risco. Tão logo fomos nos aproximando do naufrágio, um pequeno cardume de tubarões foi ao nosso encontro para averiguar o que seríamos e tão rápido apareceram, também foram se perdendo no profundo azul e, entre esse grupo de curiosos e simpáticos tubarões, estava aquele que é exemplo vivo da vida marinha. Nossas atenções também estariam divididas entres eles e tudo mais que o lugar nos oferecia. Uma simples embarcação aos olhos de quem buscava por imagens e história, não aparentava ser assim tão simples.




Peixes Leão faziam os porões um lugar perfeito para moradia, as moreias preferiam ficar sob a proteção do casco. Alguns meros e garoupas por terem a certeza que não são presas fáceis nadavam livremente entre a proa e a popa. Alguns grandes enormes caranguejos que só havia visto no aquário em Durban e nos programas da Discovery. Um naufrágio incomparavelmente mais simples que o grande Umbria em águas sudanesas, mas o Austin Smith faz a sua história valer o mergulho com os instantes que se passa ao seu lado. Esse tubarão mutilado, os grandes caranguejos, o cardume de pequeninos peixes que acreditavam estar vivendo na segurança dos porões mas, mal sabiam que os exóticos leões que dividiam o mesmo espaço eram seus principais predadores. Um lugar aparentemente simples e de necessidade única, é preciso que além do poder que o equipamento fotográfico tem de gravar a imagem, é necessário que chegue aquele lugar com a imaginação além do pequeno limite do lugar.



E com uso desta imaginação que me atentei ao simples fato que viria a se confirmar durante a noite. Logo que iniciamos a subida, em função da força das águas que corriam ainda mais, alguns de nós procuramos usar o cabo que apoitava nossa embarcação como cabo guia de volta. Mas, o vento havia aumentado sua pressa, a superfície estava ainda mais agitada e o live abord sofria cada vez mais a força dos ventos. Mesmo o cabo sendo muito grosso e praticamente impossível de arrebentar, a força exercida sobre ele era muito grande e nitidamente havia a sensação que a qualquer instante ele poderia não aguentar e estourar. Não queria sentir esta forte “chicotada” em meio um mar distante, a alguns metros de profundidade e ainda ao meio de uma água que corria só deus sabe para onde. Achei por bem me distanciar e chegar a superfície independente daquele cabo. Batia, não era atoa que o cabo estava zunindo toda aquela força, o mar havia virado, a tripulação já apresentava uma certa apreensão e a dificuldade para entrar no barco já não era tão simples. O vento soprava forte, a superfície deslizava rapidamente para trás, o deck inferior sofria cada vez mais com as ondas e a embarcação subia e descia com a mesma intensidade que o vento castigava. É ora de ter calma e controle, saber o momento exato, não há espaço para erro e tão pouco para o desespero.




Um bom banho quente, um café forte e um merecido descanso faz valer o mergulho de hoje, ah apenas uma cervejinha bem gelada para completar. Zarpamos em busca de um ponto para passarmos a noite, ancoramos as margens de um pequeno recife ainda na mesma região, ancoras em proa e popa, vento forte entrado pela frente e a lua nos dá como presente uma noite iluminada e de poucas probabilidades de chuvas. Apreciando a noite se fixar cada vez mais, algum blues tocando dividia meus ouvidos com assovio cada vez mais forte do vento que não cessava, foi quando os meus pensamento de cedo se concretizaram, o cabo da ancora de partiu e como uma folha solta ao vento a embarcação exigiu de toda experiência de sua tripulação. Quando me sinto perdido em algum lugar desses mares, prefiro ficar de pé firme em meus pensamentos, maior do que o prazer de poder ir, é saber que terei a oportunidade de voltar ao mesmo lugar, mesmo que seja em meus simples textos. Austin Smith é um lugar único.     
           

   

Um comentário:

  1. Adriana Esteduto Machado16 de julho de 2014 às 04:05

    Ler sobre suas experiências sub é mergulhar em águas profundas e querer transformar sonhos em realidade. O mar certamente é um lugar ÚNICO e que merece a apreciação e respeito de todos. Parabéns pelas fotos e texto!!!

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