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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Parque Nacional Marinho de Abrolhos

Exibição caudal da Jubarte



Quando decidi ir ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos fotografar, o meu maior interesse era o encontro com as gorduchinhas, um apelido carinhoso que dei para as baleias Jubartes, é óbvio que haveria o interesse pelos mergulhos mas, o foco era realmente as baleias. Completando o terceiro ano que tentava ir ao arquipélago, finalmente, nesse ano de 2012 consegui realizar o sonho. Em 2010 quando resolvi ir, a época das baleias naquelas águas já havia passado e por isso não despertou meu interesse, no ano de 2011 em função de minha agenda não consegui tempo para fotografar as gordinhas, mas finalmente mesmo sendo de última hora, consegui ir em 2012.

O enamorar de um casal de Atobás. Segundo o guia local, se sabe qual é o
macho ou a fêmea através do canto. São sons diferentes.. 
Um arquipélago composto por cinco ilhas, no litoral baiano foi determinado parque em abril de 1983 o seu melhor acesso é partindo de barco da cidade de Caravelas –BA e após umas quatro horas e meia de navegação já se estar próximo as ilhas. A ilha principal, a Santa Bárbara forma como se fosse um paredão e consequentemente cria uma proteção contra as forças das águas e ventos daquela região. Por causa de mau tempo que estava aqueles dias, nossa navegação e ida foi meio agitada, até eu cheguei a área de embate um pouco mareado, mas com a proteção natural devido a formação rochosa, as águas e os ventos já não faziam tanta força.
Mas infelizmente o tempo virado não agitou somente a superfície, a água também estava muito mexida, e consequentemente com muita suspensão. Na verdade quando embarquei para este destino, já imaginava que a água não estaria ideal para o mergulho, por causa da época do ano que não é indicada para prática deste esporte, para quem quer aproveitar o lugar para mergulhar, é interessante que vá no verão, nos meses de dezembro, janeiro ou fevereiro. Mas como já havia dito, o meu interesse eram as baleias, e normalmente elas só estão presentes de julho a final de outubro.


Ilha Guaira


Mesmo sabendo da total proibição do mergulho juntos das baleias, eu cultivava uma certa esperança em poder cair na água quando avistasse elas, pura inocência minha, além do fato da proibição ser extremamente rigorosa, a visibilidade da água não permitia qualquer contato visual, acredito que não havia se quer um metro de visibilidade, ainda mais, nitidez para fotografar um animal tão grande como aquele. Isso sem levar em consideração as condições do mar, que além das ondas, ainda havia uma correnteza muito forte. Enfim, o mergulho com as baleias não é permitido e tão pouco possível.  Mas mesmo assim, elas dão um show na superfície. A sua respiração com aquele enorme e forte chafariz, a exibição da nadadeira caudal também é muito fascinante, sempre na presença da formação de família, era comum o encontro com uma baleia macho enormemente grande, uma mãe apenas um pouco menor e um filhote bem menor se comparado aos pais mas, enormemente grande se considerado apenas um filhote. Como a época das baleias é do meio até quase o fim do ano, é importante que a visitação seja feita mais para o final por que as mamães já deram a luz, e aí terá o prazer de vivenciar o aprendizado que os filhotes têm ao navegarem junto de seus pais.



A embarcação com um grande deck na proa e na popa, é só ficar de câmera em punho que em breve o capitão do catamarã irá localizar uma família e aí é só esperar o momento exato para as fotos. Elas aparecem, respiram, se exibe e novamente submergem, já os filhotes não conseguem ficar tanto tempo em apnéia, são obrigados a retornarem a superfície antes de seus pais. E essas cenas se repetem várias e várias vezes, e quem está ali fotografando parece se encantar cada vez mais a cada aparição dos gorduchos. Mas ainda havia o maior de todos os espetáculos, e esse não seria fácil de ser visto e tão pouco de ser fotografado. O salto da baleia, talvez seja um dos mais belos espetáculos da natureza, e o marinheiro de nossa embarcação já havia dito que se eu quisesse ver um salto, deveria ficar de olhos atentos bem no horizonte.

Ilha Santa Bárbara

Queria um salto bem ali perto, a favor da luz do sol para poder carimbar em uma bela fotografia, infelizmente não houve esse salto tão perto, mas quando aconteceu na linha do horizonte, eu estava preparado e determinado acertar alguns cliques, mesmo meio tímidos, mas consegui registrar esse momento ímpar.


Fico até agora imaginando como deve ser presenciar isto de bem perto, porque a longa distância o espetáculo já impressionava pela sua grandeza, imagino ao lado da embarcação. Mas esse encontro só acontece na navegação de ida e de volta do arquipélago, por que as baleais seguem uma linha de navegação que faz interseção com o trajeto da embarcação.

Pássaro Benedito


Filhote de Atobá




Já apoitado as margens da Santa Bárbara, preparamos o equipamento para o mergulho apenas para o check dive de costume. Tenho certeza que no final do ano a água deve ter uma boa visibilidade, porque no primeiro mergulho, na enseada da Ilha Santa Bárbara me fez decidir que não iria fazer os outros sete mergulhos que estavam programados. Muita suspensão na água, não eram as melhores condições de mergulho, já na superfície, a paisagem era digna de belíssimas imagens, não iria ficar em água perdendo oportunidades de algumas fotos lá em cima.

A hora que a jubarte saltou, infelizmente foi longe, mesmo estando com uma lente zoom de 500mm, a imagem realmente não ficou boa, pelo menos dar a sensação de como é o espetáculo..


Mas antes que a noite caísse, desembarcamos nesta ilha, a única habitada por um pessoal da marinha, pessoas que vivem em prol da conservação daquele pequeno paraíso. Já pisamos na ilha no final da tarde, o vento castigava fortemente. O grandíssimo espetáculo desta vez, será em algo construído pelo homem, poder ver e participar de perto no acendimento do farol, que iluminam os olhos de marinhos que se aventuram naquelas águas noite adentro. Uma imponente construção, uma plataforma de sua ponta superior com uma visão em 360 de todo arquipélago, ver aquele jogo de luzes serem acessos é simplesmente indescritível.


Farol na Ilha Santa Bárbara



É hora de volta para embarcação, ir para minha cabine no piso inferior, amanhã quero acordar novamente bem disposto, haverá um mergulho em um naufrágio um pouco distante da formação de ilhas e teoricamente o lugar é um bom mergulho. Assim que o dia amanhece, vou até a pequena ilha Guarita, uma ilha formada por pedras arredondadas e de coloração esbranquiçada por causa das fezes dos Beneditos.  Para poder fotografar as aves conhecidas como Benedito, um passarinho com hábitos migratórios que viajam muitos quilômetros até este ponto para reprodução. Não é permitido o desembarque nesta ilhota. Fotografar essas pequenas aves a bordo de um simples bote inflável não tão fácil, de coloração amarronzada sobre uma rocha escura e aos balanço das ondas, não me criaram ótimas oportunidades para belíssimas imagens.


Desenhos criados com as rachaduras na rocha

Catamarã que fui para Abrolhos e, em 2013 Ilhas Trindade


Conflitava comigo mesmo a questão se iria ou não no mergulho do dia, havia a opção de abortar o mergulho em troca de um passeio pela ilha Siriba, um reduto dos atobás, e assim poderia fazer uma caminhada em toda circunferência da ilha. Mesmo tendo quase certeza que a água não estava boa para o mergulho, resolvi me ariscar em busca de algumas fotos subaquática, porque até esse momento ainda não havia se quer uma foto sub do arquipélago de Abrolhos. Uns quinze minutos de navegação até uma boia atada ao navio que estava ao fundo. Cai na água, equipamento fotográfico na mão e o quase arrependimento, visibilidade praticamente nula, uma correnteza forte e eu “p.. da vida” por causa da minha falta de resistência física contra aquela correnteza que forçava sobre o meu equipamento. Desci alguns metros para sair da ação das ondas, tive que me manter firmemente agarrado ao cabo da poita até que o grupo todo estivesse preparado para descida até os 24 metros. Após chegar aos destroços, primeiramente fomos para a parte mais funda do naufrágio e praticamente não consegui ver meu dupla, uns 20 minutos submerso descido finalizar o mergulho. Muita correnteza, nenhuma vida, muita suspensão, impossível qualquer fotografia, além do risco de danificar meu brinquedinho fotográfico que neste momento apenas me atrapalhava na água.



Prefiro voltar logo para embarcação e desembarcar na Siriba, com toda certeza haverá muitas fotos, muitas histórias para serem contadas. No verdadeiro santuário dos atobás, tem que andar com cuidados para não pisar em ninhos dessas aves, apesar de haver uma trilha em volta de toda sua extensão. Era época de filhotes, então, por todos os cantos se viam casais de atobás cuidando de seus filhotes entre um namoro e outro. Alguns filhotes já crescidos treinando o “bater” de asas, outros se arriscando a sair do chão.

Chafariz da baleia



A visão da ilha é fascinante, mesmo sob um sol escaldante fiz questão de percorrer toda sua extensão de 1.600km em busca de muitas imagens. Com formação de rocha vulcânica, as margens da ilha tem uma característica bem singular, o desenho criado na superfície pelo escoamento do magma quente e provavelmente o esfriamento brusco pela ação da água do mar, criou rachaduras que impressionam pela harmonia dos desenhos.  Em um determinado trecho, é necessário se espremer na estreita faixa da rocha para atravessar para o outro lado, e o mais engraçado é que o horário era de maré enchendo, consequentemente as ondas estavam cada vez maiores, não havia risco de acidentes mas, o equipamento fotográfico corria sério risco de tomar um belo banho de água salgada.      


Os 3 membros da família na superfície, pai, mãe e o filhote de Jubarte


Detalhes da cabeça da Jubarte


Já eram meio dia e meia e o comandante de nossa embarcação havia combinado que a partida seria exatamente ao meio dia, estávamos atrasados e precisávamos correr, o trajeto de volta é logo e havia a possibilidade de mais alguns encontros com as gorduchinhas. Já a bordo, um almoço, separar e guardar todo equipamento pessoal. A uma velocidade média de 9 nós, começamos o trajeto de volta e o principal de tudo, a expectativa por novos encontros. Após uma hora mais ou menos começamos avista-las. Não sei ao certo o que estava acontecendo, mas na volta algumas baleias estavam tendo algum tipo de atrito, pacificamente ou não, uma empurrava a outra, teve um momento que uma Jubarte emergiu em baixo de nosso catamarã, ótima oportunidade para algumas fotos, mais algumas fotos e por fim a navegação até Caravelas. E dali para frente, foi um bom sono na minha cabine até a embarcação encostar novamente no cais.
Um destino praticamente imperdível, é uma pena a época do ano que as baleias estão por ai não ser ideal para o mergulho, com certeza o lugar se tornaria ainda mais perfeito, mas mesmo assim vale muito a pena conhecer, desde que se julgue o que seria mais importante, o encontro com as gorduchinhas ou a prática de mergulho com uma água que valha a viagem. Indico a Apecantus como operadora para essas expedições, embarcações com toda infra-estruturas, tripulação formada por pessoas de muito carisma, e dali surgiu uma nova amizade e uma oportunidade para expedição Ilhas de Trindade, serão vinte e pouco dias a bordo do grande catamarã Zeus, um veleiro que servirá de nossa casa flutuante por quase um mês, mas isso é uma próxima história.   

Filhote de atobá se alimentando