O calor intenso castigava nossos intervalos de
superfícies, e o que mais nos assustou foi saber que o período não era o mais
quente do ano, muito pelo contrário, o M/Y Suzana só operava naquela região
durante três meses por ano, após esse tempo ele retorna para o Egito, por causo
do calor praticamente insuportável no restante do ano. Na companhia de uma
tripulação Egípcia, exceto um único sudanês, fizemos praticamente a única rota
de mergulho que é autorizada a ser explorada pelo turismo. A nossa grande
expectativa seria o mergulho no enorme naufrágio Umbria, que ficaria para o
último mergulho do último dia de expedição. Eu, como sempre sentia a esperança
de poder encontrar alguns tubarões, obviamente que nas vésperas do embarque,
busquei um pouco de informação sobre os mergulhos com tubarões na região.
Haveria uma grande possibilidade de encontros com cardumes de muitos Martelos
em alguns pontos.
Mas na prática, não foi o que realmente aconteceu. Por causa
da água a uma temperatura sempre em torno dos 28 graus, os tubarões ficavam
abaixo dos cinquenta metros de profundidades. Uma embarcação com certa
restrição no uso do oxigênio e provavelmente um atendimento médico
especializado muito limitado, achei que não seria interessante se ariscar nos
limites de um mergulho recreativo. Os paredões que são características
presentes em praticamente todos os mergulhos, não nos dava permissão para
buscar tão excessivamente os tubarões. Equipado com uma lente macro 60mm e duas
fontes de iluminação suficientemente fortes para repor a falta de luz em
qualquer detalhe que fosse, me perdia no tempo de fundo em meio a tantos
detalhes. A quantidade de vida, a harmonia nos corais de recifes e a perfeição
de um lugar praticamente intocável, foi suficientemente perfeito para uma
imaginação que se matutava de como seria o lugar.
Distante das margens o suficiente para que nossos
olhares se perdessem somente em águas e no azul esfumaçado dos longos dias
ensolarados, fomos explorando mergulho a mergulho os pontos de recifes já
conhecidos do guia local. Um experiente mergulhador italiano que não se
continha na ansiedade de nos levar ao encontro com os tubarões, a sua descida
era praticamente vertical até os limites. Na briga contra o tempo de fundo e na
expectativa de ver mais e mais os tubarões, me mantive em uma profundidade bem
menor e sempre atento ao brilho de seu cilindro para que ele não se perdesse de
meu olhar naquelas águas escurecidas pela profundidade. Isso me roubava alguns
bons minutos que poderia estar grudado nos paredões que me satisfaziam
absurdamente mais as minhas fotos de um modo geral.
Já alguns dias embarcados relativamente longe de
qualquer terra firme, fomos presenteados com um passeio na ilha junto ao recife
de Sanganeb, um pequeno ponto de apoio com um enorme farol rodeado de uma visão
simplesmente paradisíaca. O encantamento de todos nós apenas na aproximação da
embarcação, se fez insignificante no que se pôde admirar estando no topo do
farol.
Ilhado por uma base de corais a poucos metros de profundidade, envolvido
por tons de azuis que iam ao longo se escurecendo até o ponto que o horizonte
limitava nossa visão. Sob o comando de alguns faroleiros que ficam naquele
remoto lugar por um curto período até que sejam rendidos por uma nova equipe,
fizemos o passeio em pouco tempo, o calor ainda nos castigava, brasileiros não
acostumados com aquela temperatura tão elevada e, também já era hora do sol
despencar. Mas ainda iríamos para água, a visão praticamente aérea não iria
deixar que descansássemos se não caíssemos na água para poder ver ainda mais de
perto a perfeição da natureza.
Penetrar pelos pontos de mergulho que o Sudão nos
oferece é algo muito além de qualquer imaginação, dos poucos lugares que ainda
podemos ter o prazer de mergulhar sem a invasão turística, o Sudão é certamente
o ponto perfeito. O contraste na realidade de um sofrido povo, obrigado a viver
em uma terra que parece ser esquecida por toda humanidade e ainda poder
desfrutar de um mar perfeito, são detalhes que vão complementando um destino de
viagem. De águas calmas e formações coralíneas que vão quase a superfície, vida
marinha rodeados de alguns tubarões aos cinquenta metros de profundidades e
vida, vida e muito mais vida aos poucos metros da superfície, é o cenário
constante de praticamente todos os mergulhos.
Para os que não se contentam na
necessidade de querer fotografar tudo que envolve o mergulho, o lugar realmente
se faz perfeito. A iluminação forte que vem do sol, uma corrente parada a ponto
quase estático, uma água com visibilidade até aos limites de nossa visão e
ainda para completar tudo isso, um ecossistema completamente harmônico entre
milhares de forma de vida subaquática. Sudão ainda é um ponto que merece ser
visitado por qualquer amante do mergulho.
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