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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

domingo, 29 de dezembro de 2013

Sudão Intocável Part. 2



O calor intenso castigava nossos intervalos de superfícies, e o que mais nos assustou foi saber que o período não era o mais quente do ano, muito pelo contrário, o M/Y Suzana só operava naquela região durante três meses por ano, após esse tempo ele retorna para o Egito, por causo do calor praticamente insuportável no restante do ano. Na companhia de uma tripulação Egípcia, exceto um único sudanês, fizemos praticamente a única rota de mergulho que é autorizada a ser explorada pelo turismo. A nossa grande expectativa seria o mergulho no enorme naufrágio Umbria, que ficaria para o último mergulho do último dia de expedição. Eu, como sempre sentia a esperança de poder encontrar alguns tubarões, obviamente que nas vésperas do embarque, busquei um pouco de informação sobre os mergulhos com tubarões na região. Haveria uma grande possibilidade de encontros com cardumes de muitos Martelos em alguns pontos. 




Mas na prática, não foi o que realmente aconteceu. Por causa da água a uma temperatura sempre em torno dos 28 graus, os tubarões ficavam abaixo dos cinquenta metros de profundidades. Uma embarcação com certa restrição no uso do oxigênio e provavelmente um atendimento médico especializado muito limitado, achei que não seria interessante se ariscar nos limites de um mergulho recreativo. Os paredões que são características presentes em praticamente todos os mergulhos, não nos dava permissão para buscar tão excessivamente os tubarões. Equipado com uma lente macro 60mm e duas fontes de iluminação suficientemente fortes para repor a falta de luz em qualquer detalhe que fosse, me perdia no tempo de fundo em meio a tantos detalhes. A quantidade de vida, a harmonia nos corais de recifes e a perfeição de um lugar praticamente intocável, foi suficientemente perfeito para uma imaginação que se matutava de como seria o lugar. 




Distante das margens o suficiente para que nossos olhares se perdessem somente em águas e no azul esfumaçado dos longos dias ensolarados, fomos explorando mergulho a mergulho os pontos de recifes já conhecidos do guia local. Um experiente mergulhador italiano que não se continha na ansiedade de nos levar ao encontro com os tubarões, a sua descida era praticamente vertical até os limites. Na briga contra o tempo de fundo e na expectativa de ver mais e mais os tubarões, me mantive em uma profundidade bem menor e sempre atento ao brilho de seu cilindro para que ele não se perdesse de meu olhar naquelas águas escurecidas pela profundidade. Isso me roubava alguns bons minutos que poderia estar grudado nos paredões que me satisfaziam absurdamente mais as minhas fotos de um modo geral.






Já alguns dias embarcados relativamente longe de qualquer terra firme, fomos presenteados com um passeio na ilha junto ao recife de Sanganeb, um pequeno ponto de apoio com um enorme farol rodeado de uma visão simplesmente paradisíaca. O encantamento de todos nós apenas na aproximação da embarcação, se fez insignificante no que se pôde admirar estando no topo do farol.
Ilhado por uma base de corais a poucos metros de profundidade, envolvido por tons de azuis que iam ao longo se escurecendo até o ponto que o horizonte limitava nossa visão. Sob o comando de alguns faroleiros que ficam naquele remoto lugar por um curto período até que sejam rendidos por uma nova equipe, fizemos o passeio em pouco tempo, o calor ainda nos castigava, brasileiros não acostumados com aquela temperatura tão elevada e, também já era hora do sol despencar. Mas ainda iríamos para água, a visão praticamente aérea não iria deixar que descansássemos se não caíssemos na água para poder ver ainda mais de perto a perfeição da natureza.




Penetrar pelos pontos de mergulho que o Sudão nos oferece é algo muito além de qualquer imaginação, dos poucos lugares que ainda podemos ter o prazer de mergulhar sem a invasão turística, o Sudão é certamente o ponto perfeito. O contraste na realidade de um sofrido povo, obrigado a viver em uma terra que parece ser esquecida por toda humanidade e ainda poder desfrutar de um mar perfeito, são detalhes que vão complementando um destino de viagem. De águas calmas e formações coralíneas que vão quase a superfície, vida marinha rodeados de alguns tubarões aos cinquenta metros de profundidades e vida, vida e muito mais vida aos poucos metros da superfície, é o cenário constante de praticamente todos os mergulhos. 




Para os que não se contentam na necessidade de querer fotografar tudo que envolve o mergulho, o lugar realmente se faz perfeito. A iluminação forte que vem do sol, uma corrente parada a ponto quase estático, uma água com visibilidade até aos limites de nossa visão e ainda para completar tudo isso, um ecossistema completamente harmônico entre milhares de forma de vida subaquática. Sudão ainda é um ponto que merece ser visitado por qualquer amante do mergulho.


Continua na postagem Sudão Intocável Part 3

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sudão Intocável Part.3





De um modo geral a vida marinha no Sudão se repete do tradicional encontrado pelas rotas do Egito, no meu ponto de vista, os recifes estão mais conservados e, consequentemente, a quantidade de vida em pequenos espaços é maior que a encontra mais ao norte. Achei que o Sudão, perdeu se comparado ao Egito, na quantidade de grandes peixes. Não vimos tantos atuns grandes com a mesma frequência que encontrei no Egito, as barracudas também não eram em grandes números. Apesar de um belo cardume de napoleões ter feito nossa alegria no final de um dos mergulhos. No Egito quando se via algum napoleão estava sozinho ou no máximo em dois, já esse cardume que nos acompanhou no Sudão haviam mais de dez grandes lindos indivíduos. Mas no resumo, não sou a favor dessas comparações, acho que cada destino de viagem é único e vão apenas complementando um currículo de experiência no mergulho.




Sete dias embarcados na rotina de dois mergulhos antes do almoço e um pela tarde, exceto um único mergulho noturno no mesmo ponto do check dive, foi fazendo a semana parecer passar mais rápido do que na realidade mas, ao mesmo tempo que os mergulhos iam chegando ao fim, também ficava mais próximo o dia que iríamos conhecer o naufrágio Umbria. Tem quem diga que é um grande concorrente do famoso Thistlegorm também naufragado nas águas do Mar Vermelho bem ao norte do Egito. O Umbria está relativamente às margens do porto em Port Sudan, entre vinte a trinta metros de profundidade. Um gigante com mais de cento e cinquenta metros de comprimento, que segundo a história foi afundado pelo próprio capitão Italiano, evitando que fosse dominado pelos ingleses



durante a guerra. Esse lindo navio à vapor está deitado sobre seu costado esquerdo. Um navio carregado de munições, carros e muitas garrafas de vinhos que ainda permanecem em seus porões. Infelizmente o último mergulho também chega ao fim e é hora de lavar e secar todo equipamento, aproveitar o calor intenso no deck superior e registrar mais algumas imagens até nosso iate aportar novamente no cais.



Sem muitas opções para visitar, fomos até uma cidade em ruinas conhecida como Porto Suakin, culturalmente um ponto interessante mas infelizmente uma obra que custou muitas vidas de corais do Mar Vermelho, os blocos que ergueram a cidade foram retirados dos corais daquela região. Hoje em dia é realizado um trabalho que tenta reestruturar a cidade, acredito que esta recuperação ainda irá levar longos anos até que a obra realmente chegue ao fim. No trajeto até esta cidade, pudemos ver toda aridez e pobreza daquela terra, algo que havíamos visto e imaginado durantes o voo quando cruzamos a região. Famílias de nômades, acampamentos no meio de um deserto sem qualquer esperança. E talvez fosse esta falta de esperança que fizeste uma linda menina sudanesa chorar tão desesperadamente quando nos viu partir de uma feira. Próximo a cidade em ruinas, paramos para poder vivenciar um pouco do dia a dia da população local em suas compras em uma feira com produtos para alimentação. Meu desespero em ver tanta pobreza não foi maior que da pequena menina que se entregou as lágrimas quando achou que poderia fugir de sua própria vida, junto daquele grupo de sul americanos.





























É hora de embarcar novamente com destino a Dubai, fazer uma rápida escala em Cartum, capital do país. Apenas um dia na grande cidade cheia de exuberâncias para na manhã seguinte, embarcar no voo direto com destino ao aeroporto internacional de São Paulo. Das lembranças da viagem, de todas as belezas e expectativas que foram superadas naquele país, muitas imagens ficaram em minha mente. Os funcionários do barco saltando do deck superior ao entardecer, da vida dos corais aos poucos metros de profundidades, da visão do sol despencando ao entardecer de cima do farol, da calçada ao anoitecer com seu desfile de tradições mas, nenhuma dela me ficou tão intensamente marcada com a imagem daquela face umedecida com as lágrimas que realmente não sei a real origem.











Sudão, um país as margens de um mar que supera qualquer expectativa.