O contraste entre os elementos de uma mesma imagem, o que seria apenas a diferença entre o branco e o preto, acabou sendo na prática, a distinção do céu e da terra. A arquitetura inconstante, as formas incansavelmente em processo de remodelação e o extremo entre a temperatura limite do frio ao calor, faz o deserto criar cenas para algumas fotos que por consequência nunca mais poderão ser vistas exatamente naquele mesmo ângulo. Altercar insanavelmente a direção da luz, o ponto do escuro e a luminosidade, é apenas uma questão para que o constaste do preto ao branco possa ser fortemente enfocado.
Quando fui pela primeira vez às areias escaldantes do deserto, estava muito mais preocupado em fotografar as pirâmides do que realmente qualquer outra coisa. Mas desta vez, fomos ver o deserto, simplesmente assim. E conforme combinado, exatamente às 14:00 horas a equipe chegou ao ponto de encontro para nos buscar. Com o sol ainda a pino, deixamos a rodovia para adentramos naquele solo empobrecido de vidas. Vidas que sobrevivem sobre uma terra que poderia ser diagnosticada como morta, se não fosse sua metamorfose insaciável de suas combinações no jogo das sombras.
Pilotos experientes que parecem conhecer aquele lugar e suas trilhas, tão bem quanto a incerteza do que haverá imediatamente após as cristas, que se formam com a ação dos ventos. Carros com seus pneus preparados para encararem a flacidez do solo, cabines reforçadas para suportarem uma possível capotagem e equipamento de refrigeração o suficiente para amenizar o calor que reflete dos brilhos daqueles pequenos grãos. Tudo isso formava o conjunto perfeito para arriscarmos uma travessia entre o lado de cá e o improvável de lá. E enquanto isso o sol ia descendo, e os contraste que se formavam, eram cada vez mais evidentes a diferença da penumbra para real sombra.
As paradas tinham que ser rápidas. Apenas algumas fotos, uma correria ao topo de um ponto que nos permitisse segurança, um pouco de admiração ao horizonte que se perdia entre as formas e novamente voltar para o carro. Teríamos que chegar ao ponto de apoio antes do sol realmente se despedir de nós. Já somavam mais de 4 horas que rodávamos praticamente sem um destino exato, pelo menos era o que eu estaria fazendo, se não fossem os guias locais que não se abatiam na imperfeição do lugar. Beleza e charme que necessitariam ser reconhecidos no posicionamento de uma máquina fotográfica, usada para registrar o momento daquele exato lugar.
Faltando apenas alguns metros para que o sol tocasse as areias naquele ponto distante, chegamos ao nosso oásis. A cultura do camelo como meio de transporte, o adestramento de aves de rapina e certamente um show com a dança do ventre, fizeram parte do encerramento do dia. Já sob um céu esquecido pelo sol, uma noite desprezada pelo calor do dia e uma fome derrotada pelo jantar típico daquele povo, me dei ao direito de uma cerveja. Amanhã embarco de volta para casa.