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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Desejos


Desejo primeiro que você ame
E que amando, também seja amado
E que se não for, que seja breve em esquecer
E que esquecendo, não guarde mágoa
Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, seja sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fieis,
E que pelo mesmos um deles
Você possa confiar sem duvidar
É porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, e nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiadamente seguro
Desejo depois que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé
Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram poucos, porque isso é fácil
Mas com os que erram muitos e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros
Desejo que você sendo jovem
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro, não insista em rejuvelecer,
E que sendo venho, não se dedique ao desespero,
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós
Desejo por sinal que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso e o riso contínuo é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existe oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão a sua volta,
Desejo ainda que você brinque com um gato
Alimente um cuco e ouça um joão-de-barro
Erguer triunfante seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada
Desejo ainda que você plante uma semente
Por mais miúda que seja,
E acompanhe seu crescimento
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita um árvore
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático,
E que pelo menos uma fez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “esse é meu”
Só para que fique bem claro quem é dono de quem,
Desejo também que nenhum de seus afetos morra
Por ele e por você
Mas se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sem sofrer e sem se culpar
Desejo por fim que você sendo homem
Tenha uma boa mulher
E que sendo mulher
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor pra recomeçar,
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a te desejar


                                           Victor Hugo






terça-feira, 16 de outubro de 2012

Parque Nacional Marinho de Abrolhos

Exibição caudal da Jubarte



Quando decidi ir ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos fotografar, o meu maior interesse era o encontro com as gorduchinhas, um apelido carinhoso que dei para as baleias Jubartes, é óbvio que haveria o interesse pelos mergulhos mas, o foco era realmente as baleias. Completando o terceiro ano que tentava ir ao arquipélago, finalmente, nesse ano de 2012 consegui realizar o sonho. Em 2010 quando resolvi ir, a época das baleias naquelas águas já havia passado e por isso não despertou meu interesse, no ano de 2011 em função de minha agenda não consegui tempo para fotografar as gordinhas, mas finalmente mesmo sendo de última hora, consegui ir em 2012.

O enamorar de um casal de Atobás. Segundo o guia local, se sabe qual é o
macho ou a fêmea através do canto. São sons diferentes.. 
Um arquipélago composto por cinco ilhas, no litoral baiano foi determinado parque em abril de 1983 o seu melhor acesso é partindo de barco da cidade de Caravelas –BA e após umas quatro horas e meia de navegação já se estar próximo as ilhas. A ilha principal, a Santa Bárbara forma como se fosse um paredão e consequentemente cria uma proteção contra as forças das águas e ventos daquela região. Por causa de mau tempo que estava aqueles dias, nossa navegação e ida foi meio agitada, até eu cheguei a área de embate um pouco mareado, mas com a proteção natural devido a formação rochosa, as águas e os ventos já não faziam tanta força.
Mas infelizmente o tempo virado não agitou somente a superfície, a água também estava muito mexida, e consequentemente com muita suspensão. Na verdade quando embarquei para este destino, já imaginava que a água não estaria ideal para o mergulho, por causa da época do ano que não é indicada para prática deste esporte, para quem quer aproveitar o lugar para mergulhar, é interessante que vá no verão, nos meses de dezembro, janeiro ou fevereiro. Mas como já havia dito, o meu interesse eram as baleias, e normalmente elas só estão presentes de julho a final de outubro.


Ilha Guaira


Mesmo sabendo da total proibição do mergulho juntos das baleias, eu cultivava uma certa esperança em poder cair na água quando avistasse elas, pura inocência minha, além do fato da proibição ser extremamente rigorosa, a visibilidade da água não permitia qualquer contato visual, acredito que não havia se quer um metro de visibilidade, ainda mais, nitidez para fotografar um animal tão grande como aquele. Isso sem levar em consideração as condições do mar, que além das ondas, ainda havia uma correnteza muito forte. Enfim, o mergulho com as baleias não é permitido e tão pouco possível.  Mas mesmo assim, elas dão um show na superfície. A sua respiração com aquele enorme e forte chafariz, a exibição da nadadeira caudal também é muito fascinante, sempre na presença da formação de família, era comum o encontro com uma baleia macho enormemente grande, uma mãe apenas um pouco menor e um filhote bem menor se comparado aos pais mas, enormemente grande se considerado apenas um filhote. Como a época das baleias é do meio até quase o fim do ano, é importante que a visitação seja feita mais para o final por que as mamães já deram a luz, e aí terá o prazer de vivenciar o aprendizado que os filhotes têm ao navegarem junto de seus pais.



A embarcação com um grande deck na proa e na popa, é só ficar de câmera em punho que em breve o capitão do catamarã irá localizar uma família e aí é só esperar o momento exato para as fotos. Elas aparecem, respiram, se exibe e novamente submergem, já os filhotes não conseguem ficar tanto tempo em apnéia, são obrigados a retornarem a superfície antes de seus pais. E essas cenas se repetem várias e várias vezes, e quem está ali fotografando parece se encantar cada vez mais a cada aparição dos gorduchos. Mas ainda havia o maior de todos os espetáculos, e esse não seria fácil de ser visto e tão pouco de ser fotografado. O salto da baleia, talvez seja um dos mais belos espetáculos da natureza, e o marinheiro de nossa embarcação já havia dito que se eu quisesse ver um salto, deveria ficar de olhos atentos bem no horizonte.

Ilha Santa Bárbara

Queria um salto bem ali perto, a favor da luz do sol para poder carimbar em uma bela fotografia, infelizmente não houve esse salto tão perto, mas quando aconteceu na linha do horizonte, eu estava preparado e determinado acertar alguns cliques, mesmo meio tímidos, mas consegui registrar esse momento ímpar.


Fico até agora imaginando como deve ser presenciar isto de bem perto, porque a longa distância o espetáculo já impressionava pela sua grandeza, imagino ao lado da embarcação. Mas esse encontro só acontece na navegação de ida e de volta do arquipélago, por que as baleais seguem uma linha de navegação que faz interseção com o trajeto da embarcação.

Pássaro Benedito


Filhote de Atobá




Já apoitado as margens da Santa Bárbara, preparamos o equipamento para o mergulho apenas para o check dive de costume. Tenho certeza que no final do ano a água deve ter uma boa visibilidade, porque no primeiro mergulho, na enseada da Ilha Santa Bárbara me fez decidir que não iria fazer os outros sete mergulhos que estavam programados. Muita suspensão na água, não eram as melhores condições de mergulho, já na superfície, a paisagem era digna de belíssimas imagens, não iria ficar em água perdendo oportunidades de algumas fotos lá em cima.

A hora que a jubarte saltou, infelizmente foi longe, mesmo estando com uma lente zoom de 500mm, a imagem realmente não ficou boa, pelo menos dar a sensação de como é o espetáculo..


Mas antes que a noite caísse, desembarcamos nesta ilha, a única habitada por um pessoal da marinha, pessoas que vivem em prol da conservação daquele pequeno paraíso. Já pisamos na ilha no final da tarde, o vento castigava fortemente. O grandíssimo espetáculo desta vez, será em algo construído pelo homem, poder ver e participar de perto no acendimento do farol, que iluminam os olhos de marinhos que se aventuram naquelas águas noite adentro. Uma imponente construção, uma plataforma de sua ponta superior com uma visão em 360 de todo arquipélago, ver aquele jogo de luzes serem acessos é simplesmente indescritível.


Farol na Ilha Santa Bárbara



É hora de volta para embarcação, ir para minha cabine no piso inferior, amanhã quero acordar novamente bem disposto, haverá um mergulho em um naufrágio um pouco distante da formação de ilhas e teoricamente o lugar é um bom mergulho. Assim que o dia amanhece, vou até a pequena ilha Guarita, uma ilha formada por pedras arredondadas e de coloração esbranquiçada por causa das fezes dos Beneditos.  Para poder fotografar as aves conhecidas como Benedito, um passarinho com hábitos migratórios que viajam muitos quilômetros até este ponto para reprodução. Não é permitido o desembarque nesta ilhota. Fotografar essas pequenas aves a bordo de um simples bote inflável não tão fácil, de coloração amarronzada sobre uma rocha escura e aos balanço das ondas, não me criaram ótimas oportunidades para belíssimas imagens.


Desenhos criados com as rachaduras na rocha

Catamarã que fui para Abrolhos e, em 2013 Ilhas Trindade


Conflitava comigo mesmo a questão se iria ou não no mergulho do dia, havia a opção de abortar o mergulho em troca de um passeio pela ilha Siriba, um reduto dos atobás, e assim poderia fazer uma caminhada em toda circunferência da ilha. Mesmo tendo quase certeza que a água não estava boa para o mergulho, resolvi me ariscar em busca de algumas fotos subaquática, porque até esse momento ainda não havia se quer uma foto sub do arquipélago de Abrolhos. Uns quinze minutos de navegação até uma boia atada ao navio que estava ao fundo. Cai na água, equipamento fotográfico na mão e o quase arrependimento, visibilidade praticamente nula, uma correnteza forte e eu “p.. da vida” por causa da minha falta de resistência física contra aquela correnteza que forçava sobre o meu equipamento. Desci alguns metros para sair da ação das ondas, tive que me manter firmemente agarrado ao cabo da poita até que o grupo todo estivesse preparado para descida até os 24 metros. Após chegar aos destroços, primeiramente fomos para a parte mais funda do naufrágio e praticamente não consegui ver meu dupla, uns 20 minutos submerso descido finalizar o mergulho. Muita correnteza, nenhuma vida, muita suspensão, impossível qualquer fotografia, além do risco de danificar meu brinquedinho fotográfico que neste momento apenas me atrapalhava na água.



Prefiro voltar logo para embarcação e desembarcar na Siriba, com toda certeza haverá muitas fotos, muitas histórias para serem contadas. No verdadeiro santuário dos atobás, tem que andar com cuidados para não pisar em ninhos dessas aves, apesar de haver uma trilha em volta de toda sua extensão. Era época de filhotes, então, por todos os cantos se viam casais de atobás cuidando de seus filhotes entre um namoro e outro. Alguns filhotes já crescidos treinando o “bater” de asas, outros se arriscando a sair do chão.

Chafariz da baleia



A visão da ilha é fascinante, mesmo sob um sol escaldante fiz questão de percorrer toda sua extensão de 1.600km em busca de muitas imagens. Com formação de rocha vulcânica, as margens da ilha tem uma característica bem singular, o desenho criado na superfície pelo escoamento do magma quente e provavelmente o esfriamento brusco pela ação da água do mar, criou rachaduras que impressionam pela harmonia dos desenhos.  Em um determinado trecho, é necessário se espremer na estreita faixa da rocha para atravessar para o outro lado, e o mais engraçado é que o horário era de maré enchendo, consequentemente as ondas estavam cada vez maiores, não havia risco de acidentes mas, o equipamento fotográfico corria sério risco de tomar um belo banho de água salgada.      


Os 3 membros da família na superfície, pai, mãe e o filhote de Jubarte


Detalhes da cabeça da Jubarte


Já eram meio dia e meia e o comandante de nossa embarcação havia combinado que a partida seria exatamente ao meio dia, estávamos atrasados e precisávamos correr, o trajeto de volta é logo e havia a possibilidade de mais alguns encontros com as gorduchinhas. Já a bordo, um almoço, separar e guardar todo equipamento pessoal. A uma velocidade média de 9 nós, começamos o trajeto de volta e o principal de tudo, a expectativa por novos encontros. Após uma hora mais ou menos começamos avista-las. Não sei ao certo o que estava acontecendo, mas na volta algumas baleias estavam tendo algum tipo de atrito, pacificamente ou não, uma empurrava a outra, teve um momento que uma Jubarte emergiu em baixo de nosso catamarã, ótima oportunidade para algumas fotos, mais algumas fotos e por fim a navegação até Caravelas. E dali para frente, foi um bom sono na minha cabine até a embarcação encostar novamente no cais.
Um destino praticamente imperdível, é uma pena a época do ano que as baleias estão por ai não ser ideal para o mergulho, com certeza o lugar se tornaria ainda mais perfeito, mas mesmo assim vale muito a pena conhecer, desde que se julgue o que seria mais importante, o encontro com as gorduchinhas ou a prática de mergulho com uma água que valha a viagem. Indico a Apecantus como operadora para essas expedições, embarcações com toda infra-estruturas, tripulação formada por pessoas de muito carisma, e dali surgiu uma nova amizade e uma oportunidade para expedição Ilhas de Trindade, serão vinte e pouco dias a bordo do grande catamarã Zeus, um veleiro que servirá de nossa casa flutuante por quase um mês, mas isso é uma próxima história.   

Filhote de atobá se alimentando




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Egito, uma terra de mistério.



Depois de estar finalizando o meu primeiro livro, que conta em detalhes os mergulhos de seis países e três oceanos, e coincidentemente ou não, que minha primeira viagem ao exterior a mergulho se tornou minha primeira publicação em uma revista do ramo. O reconhecimento da Deco Stop ao meu trabalho, pôde levar a todo grupo de mergulhadores a experiência que aconteceu em sete dias embarcado, quatro dias em terras egípcias e praticamente seis dias no translado
Simplesmente com a intensão de complementar a matéria publicada na Deco no dia 15/06/12, posto novamente a viagem ao Mar Vermelho. Mas desta vez munido de muito mais conhecimento no assunto, muito mais empolgado pelos resultados que o meu trabalho vem alcançando.   

Tudo isso vai tornando a publicação do meu livro mais real. O trajeto foi longo e
no voo de volta, cruzando a África sobre a Argélia, percebo que existem alguns sentimentos diferentes em uma mesma região. A África que se mostrou perfeita em água e terra, abrigando o exótico Egito, neste momento fica para trás no GPS de nosso avião uma África longa e sem interesse para quem tem ansiedade de chegar em casa.

No voo direto para São Paulo, o Atlântico se mostrou ser pequeno quando a aeronave iniciou a descida para o final deste trabalho. As luzes da grande capital paulista iluminam uma cidade que espera o amanhecer sob um céu escuro, carregado de nuvens cinzentas. O avião toca ao solo, sob os aplausos dos passageiros, em função do ótimo voo que tivemos. O que era sonho, hoje é felicidade de estar novamente no Brasil. Este é o ponto de partida.
Parti, deixando para trás uma expectativa de meses.

Pouso tranquilo no Cairo, hora do desembarque, segurança total, soldados armados em todos os cantos. Mulheres de Burca, beleza feminina coberta pela tradição, despertando no homem a curiosidade que uma cultura que não consegue desfazer. É estranho ver isto de perto.

Fomos direto para um belíssimo hotel na capital, banho tomado, estômago forrado, pegamos um táxi para a feira popular no centro da cidade. Um verdadeiro paraíso para quem quer ir às compras. As 23:00h o mercado fechou, pegamos um táxi, que nos cobrou 70,00 libras, o que na verdade saiu extremamente caro, não pelo valor, mas sim porque o motorista foi durante os cinquenta minutos da corrida ouvindo uma espécie de ladainha árabe, que parecia mais um gemido de dor ou sei lá o que, talvez uma leitura do alcorão em árabe. Trânsito louco, uma verdadeira loucura, o som das buzinas é intermitente.

Logo que o dia amanhece, partimos para Hurghada, duas horas e meia de voo chegamos por volta do meio dia, uma temperatura de aproximadamente uns 50 graus na sombra, imediatamente pegamos o ônibus que já estava nos esperando. Mais seis horas em uma estrada que cortava o deserto de forma suave, passando por pequenas cidades do interior do Egito, cidades estas que hora margeavam o mar, e desde já iam aumentando a expectativa pela beleza. Tudo maravilhoso quando de repente o nosso ônibus quebrou, por sorte estávamos perto de uma cidade que tinha uma garagem da empresa do ônibus. Em Shafaga, esperamos meia hora, trocamos por um ônibus novo e seguimos nosso caminho. Para quem estava desfrutando de toda aquela mordomia, imaginei que chegaríamos a uma cidade grande, um cais bem estruturado, quando às onze horas da noite, o motorista encosta o ônibus, em um canto de terra batida, que ao fundo, no meio do implacável deserto, as luzes mostravam a existência da pequenina cidade Marsa Alam.

                                                                         Simplesmente Perfeito.


Cidade que estaria em minha mente desde nossa partida. Uma margem de barranco com aquele mar escuro iluminado por algumas embarcações ancoradas, surge um bote inflável, que é chamado de panga, nosso transfer até o Live Abord. Inúmeras bolsas, grandes e pequenas, frágeis e, para completar treze passageiros, cair n'água não era o meu problema, mas, estava preocupado em molhar o equipamento e ficar sem as minhas fotos.




Fomos recebidos pela tripulação, o guia local nos deu as boas vindas, jantamos e eu já louco para ouvir e ver o grande Live Abord começar a navegar, que nada, tínhamos de dormir, e aguardar a liberação da marinha local, no próximo dia. Éramos treze brasileiros e sete italianos, além dos funcionários do barco. Um imponente iate de quatro andares, com muito conforto e infraestrutura para que pudéssemos passar os próximos sete dias de forma bem agradável. O dia amanhece, ainda no suposto cais, aos poucos as embarcações a nossa volta vão partindo, até que a fiscalização confere a documentação e nos dá o “ok”. Parece que ainda estou ouvindo o roncar dos motores, ansiedade em alta, expectativa aumentando, partimos. 

Navegação suave, firme, coração acelerado e aquele balançar que é fascínio para uns e terror para outros, começamos explorar a região conhecida como Saint John Reef (Recife de São João), uma das muitas rotas de mergulho do Red Sea. Bem ao sul do Egito, nossa navegação manteve o território egípcio a boreste, e muito mais distante o território Árabe a bombordo. O limite foi quando começamos a nos aproximarmos das fronteiras marítimas do Sudão. Começamos então, nossa viagem de retorno.

Check dive, primeiro mergulho, o que eu veria da superfície para baixo, algo que nem eu sonharia, talvez fosse a perfeitção. Deslumbrado com o primeiro mergulho, não imaginava que era apenas uma pequena amostra de seis maravilhosos dias que estavam a cada segundo mais real. De retorno a embarcação, fomos recebidos pelo garçom com suco e frutas. A gentileza dos funcionários era uma característica marcante. O brilho no olhar sempre mascarado pela empolgação da experiência vivida. Tempo para o banho, jantar a mesa, e uma das melhores noites. Embarcado, muito cansado, sem a angústia do fim, navegamos a noite toda e uma boa parte da manhã seguinte, com minha cabine próxima ao nível do mar, ouvia a leveza da água sendo cortada incansavelmente. A semana passou como um piscar de olhos, lindos olhos verdes, como se piscasse em um flerte para todos nós mergulhadores. Um grupo espetacular, uma nova amizade.

A imagem sobre a superfície sempre a mesma, água, mar, água do mar, de um mar chamado Vermelho, de uma água azul. E no céu, um azul tão intenso quanto o azul profundo que estava abaixo de nossos pés. Já com a máscara em nossos olhos, e olhos tão abertos quanto nossa curiosidade, só víamos uma coisa, perfeição, uma perfeição da natureza, se criava a cada metro abaixo, a frente, ao lado e até mesmo por onde já havíamos passado.
É impressionante como já tinham uma noção da forma física do espermatozóide.

Antes de cada mergulho recebíamos as orientações do guia local, onde ele desenhava em um quadro, as características que iríamos encontrar, tais como: profundidade, direção da correnteza, possíveis peixes, e o que mais queríamos ouvir, tubarões sempre no infinito azul. Um mergulho pela manhã, um antes do almoço, um à tarde e às vezes um à noite. O dia passava, no deck superior para pegar um pouco de sol, um almoço nem sempre tão saboroso, uma merecida soneca, um bate papo noturno e, uma ansiedade para o próximo dia de mergulho.

Cada mergulho em um ponto diferente, uns perto do anterior, outros mais distantes, e meus sentidos de direção já haviam se perdidos há tempos, navegava em mar aberto, como em um passe de mágica, surgia mais um ponto. Formação de recifes quase na superfície, e completamente visível pela transparência constante das águas.
De nome exótico o Sha'ab Aid foi o que mais me impressionou pelas suas formações rochosas, com torres estreitas, formando um verdadeiro labirinto em volta de uma plataforma um pouco maior, completamente cercado de vida, e da admiração de quem teve o prazer de se perder em seu interior, Sha'ab Aid um nome difícil de falar e perfeito para o mergulho.
Já no penúltimo dia, passamos à esquerda de uma ilha no meio do nada, completamente desértica e com um solitário e importante farol que se erguia sobre uma areia escaldante, que talvez, só recebesse os carinhos dos ventos vindo do mar, servia de olhos para desavisados capitães, além de ser também ponto de apoio para aves marinhas. Último mergulho, uma correria para arrumar as bagagens, o equipamento ainda molhado, desembarcamos novamente pela panga, ao meio dia. Pegamos o ônibus com destino à cidade de Luxor, para que pudéssemos visitar o Templo dos Reis, as Pirâmides, fazer um simples passeio de balão depois de atravessarmos o majestoso rio Nilo, e então pegar o voo novamente para a cidade do Cairo.

Uma passada por uma Meca, para que pudéssemos sentir uma tradição que orienta milhões de mentes, pisar descalço em um solo santo, mulheres totalmente cobertas, justifica as manchas roxas que os seguidores do Islamismo têm na testa por demonstrarem a si o compromisso e a devoção, pela maior religião do mundo. Nesse momento da viagem, meus pensamentos se confundiam com a saudade que sentia de minha filha. Hora de embarcar para Roma, conexão com voo direto a São Paulo, uma passada no Free Shopping. Última chamada para o voo com destino Rio de Janeiro! Atenção tripulação, preparar para o pouso, aeroporto do Galeão. Sentir o beijo carinhoso de minha filha me esperando de braços abertos. É o ponto final desta viagem e o ponto de partida para próxima. 

A edição 35 publicada no dia 15 de junho de 2012 da Revista Deco Stop, traz texto e algumas fotos subaquática desta grande viagem. Espero que apreciem!

Apenas como lembraça de alguns momentos da viagem.