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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sudão Intocável - naufrágio Umbria


Indiscutivelmente, na minha opnião, ficar no deck superior dos Live Abord que faço, ver o dia passar em algum lugar de qualquer mar, sempre bem distante de qualquer litoral, é algo realmente indiscutível. E se deixar a mente fluir, certamente ela viajará por dezenas de lugares, centenas de lembranças e incontáveis imaginações. Mares que alguns dias pertenceram aos piratas, superficies que foram locais de batalhas, épocas em que só o passado foi presente.


Recriar esses dias, ou simplesmente reviver um pouco dessa magia do passado em um desses lugares remotos, é como estar sentado a beira do nada e rodeado apenas de imaginações. Um navio que nasceu para alimentar a guerra mundial, uma construção de proporção indistrutível, jogado ao fundo do mar pelo próprio capitão no ano de 1940, é hoje um oásis para vida marinha, um ponto para os apaixonados por mergulho e principalmente uma viagem ao passado distante. 



Nosso último mergulho nesta expedição ao Sudão, caímos n'água para o encontro com o Umbria, um "monstro" que nos levaria a sensações muito além do que poderíamos sentir em qualquer outro mergulho. Descemos e, ao fundo ia tomando forma aquele navio que a dias estava em nossas mentes. O Umbria foi por 28 anos uma obra de uma Alemanha, que provavelmente nunca imaginaria que o futuro deste navio seria ficar descansando ao fundo do mar as margens de um país árabe. Com suas estruturas preservadas, sua carga fazendo companhia até os dias atuais e, com sua história e reconhecimente em crescimento, o Umbria posou para algumas centenas de fotos, sob um olhar de um paixonado que sou.



Com uma história semelhante à Thistlegorm. O Umbria foi também um navio de carga da Guerra Mundial II,



O Mar Vermelho é um dos oceanos mais jovens do mundo e um dos mais quentes. A região Norte, com a sua diversificada gama de vida marinha, é um dos locais de mergulho mais visitados do mundo, enquanto o extremo sul permanece praticamente inexplorado. É um hotspot mundial de biologia marinha e uma importante rota comercial ao longo da história humana, que liga os bens de comércio da Índia e do Extremo Oriente com os mercados do Egito e da Europa.




Na Segunda Guerra Mundial o Mar Vermelho era uma importante via que liga a Europa com as colônias britânicas, como a Índia. No dia em que a Itália declarou guerra à Grã-Bretanha o Umbria foi afundado pouco mais de 20 quilômetros de Port Sudan, segunda maior cidado do Sudão, ficando atrás apenas da capital Cartum. Era um navio de carga italiano dirigindo-se para a colônia italiana da Eritreia.



O naufrágio longo, com mais de 150 metros de comprimento, encontra-se agora no fundo do mar, posicionado em um ângulo de 60 graus, a sua preciosa carga ainda está a bordo 360 mil bombas de aviões pesando 5.510 toneladas. O capitão da Umbria estava tão determinado, a marinha britânica não ter em suas mãos esta carga mortal que ele deu ordens para afundar o navio. Esses destroços estão entre os mais famosos e amplamente explorados por mergulhadores no mar Vermelho, muitos ainda estão lá, e cada um tem uma história única, que só poderia ser contada se as paredes falassem.

Mergulho no Sudão
Dive Site: O Umbria

Localização: Wingate Reef, Port Sudan

Descrição: navio de abastecimento Guerra

Comprimento: 150 metros (500 pés)

Profundidade: 5 - 35 metros (15-115 pés)

Visibilidade: 10 - 15 metros (30-50 pés)


A Umbria foi construído em Hamburgo em 1912 e começou a vida como um cargueiro. Em sua última viagem, em 1940, com destino a Eritreia, que estava nas mãos dos italianos que transportavam mais de 350.000 bombas, entre outros itens. Os britânicos apreenderam o Umbria em Port Sudan, como a Segunda Guerra Mundial era iminente e os britânicos não estavam dispostos a deixar um barco passar por eles que estaria transportando armas para o inimigo. O Umbria foi condenado a ser entregue, mas ao invés de deixar que isso aconteça, os italianos afundaram seu próprio navio. O Umbria afundou completo as margens de Port Sudan.




Existem rumores de que o Umbria é um dos melhores mergulhos do mundo e é, pelo menos parte da razão pela qual muitas pessoas vão para o Sudão. Para quem quiser, é possível chegar a sala de máquinas, nos porões, a padaria e explorar completamente o interior do naufrágio. A carga de lagunas fiat, garrafas de vinho e munições fornecem o interesse e os destroços é enfeitada com coral e peixes.



Os 68 minutos de mergulho não foram suficientes para saciar tudo que meus olhos apreciavam, ainda haveria a necessidade de mais tempo, outros mergulhos no mesmo local mas, é hora de partir, temos que voltar ao Brasil e quem sabe um dia, a este ponto que é indiscutivelmente um passeio ao passado.







quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sudão Intocável - part. 1



Eu não sei ao certo qual seria o real motivo daquelas lágrimas, tão pouco o porquê daquele desespero mas, quando resolvi fazer parte do primeiro grupo de mergulhadores brasileiros a descobrir o fascínio das águas do Sudão, já imaginava que voltaria de lá com muitas imagens e principalmente muitas histórias que ficariam por muitos e muitos tempos na minha mente. Ver aquele rostinho infantil aos prantos, pedindo desesperadamente que nós a levássemos embora daquele lugar, foi infelizmente uma das cenas mais marcante da viagem.




Chegar ao Sudão não é tão simples, a escolha por onde será a viagem até o ponto de embarque no Live Abord é uma decisão muito importante. As regras do país são severas, as exigências podem acabar atrapalhando a realização da viagem e na prática, o desespero de não conseguir embarcar para o destino final atordoou por alguns longos minutos a ansiedade da viagem. Ainda no Brasil, foram exigidos todos os documentos necessários para o embarque e, a certeza que os passaportes ficariam retidos com as autoridades locais, desde o dia de entrada até o último dia que ficaríamos no país. Afinal de contas, éramos o primeiro grupo do Brasil embarcando para aquela região, não sabíamos o final desta história.





Com partida principal no aeroporto de Guarulhos, fomos rumo a escala em Dubai, teríamos uma única noite de descanso e na manhã seguinte o destino é Port Sudan, a segunda maior cidade do Sudão, lugar que não traz nem um pouco qualquer característica que exemplifique este título. A saída dos Emirados Árabes não foi nada simples. A burocracia com a documentação, que teoricamente estaria conforme a exigência, praticamente impossibilitava o embarque para o próximo país. As regras quanto aos equipamentos de mergulho e fotográfico só foram vencidas depois de muitas conversas. Mas finalmente embarcamos, cruzamos novamente o Mar Vermelho e íamos deixando a imaginação fluir de como seria pousar naquele país de regras severas, de solo desértico e de um mar simplesmente perfeito.





Um aeroporto tão simples, nos fez ter a certeza que algo, de um modo geral, iria fazer valer a pena a viagem. O transfer até a embarcação foi em grande estilo, um ônibus antigo, pintado com as mais variadas cores possíveis, e nossos equipamentos no bagageiro do teto amarrado com cordas, foi praticamente o nosso primeiro contato com o mundo real dentro do Sudão mas, pelo menos o ar refrigerado funcionava perfeitamente, o que não aconteceu exatamente no dias embarcados.














Conforme combinado, o sr Chico nos aguardava para dar os boas vindas, fazer nossa entrada no país, o encontro com o Live Abord e reter nossos passaportes. Um porto as margens de uma praça que mais parecia um local de desfile do povo sudanês, lindas mulheres com seus trajes característicos, homens deixando o tempo passar entre uma partida e outra de sinuca, tudo isso fazia parte do cenário de nossa primeira noite naquele destino. Ainda não zarparíamos, essa noite seria por ali, ao som de seus Tuk Tuk e ao fundo alguma música árabe. Assim que o sol se escondeu, o cansaço tomou conta do meu corpo, apenas um passeio pela calçada para que pudesse ver de perto a vida ali naquela praça.





Finalmente o dia amanhece e minha alma se presenteia com a felicidade de ouvir os sons dos motores que se misturavam com o bailar das águas sendo cortadas pelo imponente Live Abord. É hora do briefing e assim que a embarcação ancorar, finalmente iremos para água. No velho e bom estilo da saída com as pangas, partimos para o primeiro mergulho. Há exatos três anos atrás, eu estava pela primeira vez nas águas do Mar vermelho, teoricamente desta vez não seria muito diferente, estaríamos mais ao sul de um mesmo mar exuberante. Esse primeiro mergulho no Sudão só se diferenciaria pelo contexto geral da viagem e por ser o lugar escolhido pela equipe de Cousteau para construção do laboratório submerso conhecido como Pré-Continente II, isso no ano 64. A obra conserva-se em perfeito estado até os dias atuais e o lugar, um recife digno de elogios do lendário Cousteau. Sha’ab Rumi é uma mistura de perfeição com o sonho, uma realidade de um recife que encantou até o maior de todos os mergulhadores de todo mundo. A vida subaquática que o rodeia, faz valer as centenas de horas que me ansiava desde o dia do convite para esta expedição.





Continua na próxima postagem!

domingo, 29 de dezembro de 2013

Sudão Intocável Part. 2



O calor intenso castigava nossos intervalos de superfícies, e o que mais nos assustou foi saber que o período não era o mais quente do ano, muito pelo contrário, o M/Y Suzana só operava naquela região durante três meses por ano, após esse tempo ele retorna para o Egito, por causo do calor praticamente insuportável no restante do ano. Na companhia de uma tripulação Egípcia, exceto um único sudanês, fizemos praticamente a única rota de mergulho que é autorizada a ser explorada pelo turismo. A nossa grande expectativa seria o mergulho no enorme naufrágio Umbria, que ficaria para o último mergulho do último dia de expedição. Eu, como sempre sentia a esperança de poder encontrar alguns tubarões, obviamente que nas vésperas do embarque, busquei um pouco de informação sobre os mergulhos com tubarões na região. Haveria uma grande possibilidade de encontros com cardumes de muitos Martelos em alguns pontos. 




Mas na prática, não foi o que realmente aconteceu. Por causa da água a uma temperatura sempre em torno dos 28 graus, os tubarões ficavam abaixo dos cinquenta metros de profundidades. Uma embarcação com certa restrição no uso do oxigênio e provavelmente um atendimento médico especializado muito limitado, achei que não seria interessante se ariscar nos limites de um mergulho recreativo. Os paredões que são características presentes em praticamente todos os mergulhos, não nos dava permissão para buscar tão excessivamente os tubarões. Equipado com uma lente macro 60mm e duas fontes de iluminação suficientemente fortes para repor a falta de luz em qualquer detalhe que fosse, me perdia no tempo de fundo em meio a tantos detalhes. A quantidade de vida, a harmonia nos corais de recifes e a perfeição de um lugar praticamente intocável, foi suficientemente perfeito para uma imaginação que se matutava de como seria o lugar. 




Distante das margens o suficiente para que nossos olhares se perdessem somente em águas e no azul esfumaçado dos longos dias ensolarados, fomos explorando mergulho a mergulho os pontos de recifes já conhecidos do guia local. Um experiente mergulhador italiano que não se continha na ansiedade de nos levar ao encontro com os tubarões, a sua descida era praticamente vertical até os limites. Na briga contra o tempo de fundo e na expectativa de ver mais e mais os tubarões, me mantive em uma profundidade bem menor e sempre atento ao brilho de seu cilindro para que ele não se perdesse de meu olhar naquelas águas escurecidas pela profundidade. Isso me roubava alguns bons minutos que poderia estar grudado nos paredões que me satisfaziam absurdamente mais as minhas fotos de um modo geral.






Já alguns dias embarcados relativamente longe de qualquer terra firme, fomos presenteados com um passeio na ilha junto ao recife de Sanganeb, um pequeno ponto de apoio com um enorme farol rodeado de uma visão simplesmente paradisíaca. O encantamento de todos nós apenas na aproximação da embarcação, se fez insignificante no que se pôde admirar estando no topo do farol.
Ilhado por uma base de corais a poucos metros de profundidade, envolvido por tons de azuis que iam ao longo se escurecendo até o ponto que o horizonte limitava nossa visão. Sob o comando de alguns faroleiros que ficam naquele remoto lugar por um curto período até que sejam rendidos por uma nova equipe, fizemos o passeio em pouco tempo, o calor ainda nos castigava, brasileiros não acostumados com aquela temperatura tão elevada e, também já era hora do sol despencar. Mas ainda iríamos para água, a visão praticamente aérea não iria deixar que descansássemos se não caíssemos na água para poder ver ainda mais de perto a perfeição da natureza.




Penetrar pelos pontos de mergulho que o Sudão nos oferece é algo muito além de qualquer imaginação, dos poucos lugares que ainda podemos ter o prazer de mergulhar sem a invasão turística, o Sudão é certamente o ponto perfeito. O contraste na realidade de um sofrido povo, obrigado a viver em uma terra que parece ser esquecida por toda humanidade e ainda poder desfrutar de um mar perfeito, são detalhes que vão complementando um destino de viagem. De águas calmas e formações coralíneas que vão quase a superfície, vida marinha rodeados de alguns tubarões aos cinquenta metros de profundidades e vida, vida e muito mais vida aos poucos metros da superfície, é o cenário constante de praticamente todos os mergulhos. 




Para os que não se contentam na necessidade de querer fotografar tudo que envolve o mergulho, o lugar realmente se faz perfeito. A iluminação forte que vem do sol, uma corrente parada a ponto quase estático, uma água com visibilidade até aos limites de nossa visão e ainda para completar tudo isso, um ecossistema completamente harmônico entre milhares de forma de vida subaquática. Sudão ainda é um ponto que merece ser visitado por qualquer amante do mergulho.


Continua na postagem Sudão Intocável Part 3